segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Para uma memória futura


PARA MEMÓRIA FUTURA®

MEIMOA – PENAMACOR







PRÓLOGO





Iniciamos este trabalho, no âmbito da disciplina de “História Local e Regional do concelho de Penamacor” que faz parte do currículo da Academia Sénior do mesmo concelho, no ano lectivo de 2015/2016, para que os vindouros possam vir a conhecer a vida real, nas suas diferentes variáveis, vivida e sentida por aqueles que nos precederam.

Para não irmos mais longe e, também, porque nos faltam fontes de investigação, mais ainda, porque o que está escrito nem sempre referiu muitos dos que fizeram e fazem a história desta freguesia de Meimoa e concelho de Penamacor, iremos, como auxílio dos anciãos, fazer referências a pessoas, individualidades, instituições e gente anónima que contribuiu, na medida das suas possibilidades e com as suas potencialidades específicas, para a identidade sociológica do Povo que fomos e no que nos tornámos.

Não podemos deixar de referir personalidades que, pelas funções institucionais que desempenharam, merecem o devido destaque o que não invalida que, também façamos alusão, aos que, porventura, no seu anonimato, contribuíram igualmente, para a História deste povo. Assim, referiremos famílias, nomes que englobem todos e ninguém se sinta excluído deste despretensioso relato.

Se, porventura, não se mencionar alguém, penitenciámo-nos desde já, dizendo que não será propositadamente, mas sim desconhecimento e falta de informação.





1º Capítulo



Uma aldeia pobre, rural, que contém no seu território um latifúndio ocupando as suas melhores terras e a maior quantidade de recursos naturais implica, necessariamente, um conjunto significativo de pobres, sem terra e completamente dependente de quem lhe dê trabalho para suprir ao seu sustento e da sua família.

O maior empregador era, há seis décadas atrás, o latifundiário que necessitava de uma enorme quantidade de mão-de-obra para trabalhar todas as terras e plantas que possuía. Depois havia, uns poucos, pequenos agricultores, que também iam necessitando de um jornal ou outro, para tarefas específicas e isso era um complemento na economia da aldeia.

Em meados do século passado ainda havia, nesta localidade, um índice de analfabetismo que rondava os 75% nos homens e cerca de 95% nas mulheres, o que condicionava a vida da generalidade da população à sua fixação à terra de nascimento. Aqui se nascia, crescia, procriava e morria, sem nunca se ver o mar ou outras maravilhas históricas de património edificado que hoje, os mais novos, é com incredulidade que ouvem relatos destes modos de viver.

Sociologicamente este isolamento trazia consigo uma necessidade tão natural que era inquestionável. Casar, muitas vezes, com parentes ainda chegados para juntar os bocados de terreno e, também, porque o contacto com outros povoados e outras gentes era difícil e limitativo ao conhecimento de novas gentes.

Desta forma a freguesia tem pouco mais do que uma dezena de famílias distintas cujo facto é verificável pelos apelidos existentes. Até se costuma dizer que toda a gente é mais ou menos primo de toda a gente.

Na circunstância quem tinha algum objectivo de se livrar do trabalho manual no campo procurava que um filho que fizesse a quarta classe fosse encaminhado para o Seminário para ser Padre. Facto que requeria alguma capacidade intelectual por parte do adolescente mas também algumas arregaças do que havia em casa para obsequiar quem intercedesse pelo seu ingresso.

Às raparigas, que na época, obtiam a escolaridade mínima com, apenas, o exame da 3ª classe enquanto tal, para os rapazes, só se atingia com a 4ª classe. Desta forma a elas estava reservado o lugar de criada nalguma casa com posses, principalmente nas cidades maiores e, particularmente em Lisboa. Livrando-se do trabalho duro do campo, não se livravam do trabalho, igualmente penoso de uma casa, geralmente com uma prole alargada, a quem era preciso dar comida, lavar a roupa e passá-la, para além dos restantes trabalhos domésticos que iam desde a compra de produtos no mercado, diariamente, até à sua confecção.

Quando esse trabalho era respeitado e pago mensalmente, já era um salto na hierarquia social que permitia, mais tarde, um casamento com um artífice ou agente das forças de segurança. Mas, muitas vezes, essas mesmas moças eram violadas pelos patrões ou seus filhos rapazes, que assim iniciavam a sua vida sexual e, depois, como a culpa era sempre atribuída à mulher, dizendo-se que ela é que provocava e outras coisas do género, o que muitas vezes, atirava com essas pobres raparigas para uma vida ainda mais desgraçada, que era a prostituição.

O estudo oficial para além da 4ª classe era raro para os rapazes e mais escasso ainda para as raparigas. Era necessário que as famílias tivessem algumas propriedades rústicas e delas tirassem rendimento que pudesse arcar com as despesas, que eram muitas, só com o alojamento e a alimentação e o material escolar, já que a propina era relativamente barata.

Mesmo com estas condicionantes a Meimoa pode orgulhar-se de ter na sua sociedade gente com funções relevantes a nível nacional. Juízes, Generais, Oficiais Superiores, das Forças Armadas, Sacerdotes, Professores, Mestres, Investigadores, Quadros Superiores da Função Pública e/ou de Empresas relevantes, Políticos, Médicos, Enfermeiros enfim, todas as profissões que são o esteio de uma sociedade evoluída.

Se atentarmos ao que atrás se disse das condições económicas e geográficas facilmente se entenderá que foi com imenso esforço dos que estudaram e de muitos irmãos desses que não tiveram a possibilidade de estudar, que alcançaram tais patamares de relevo na sociedade portuguesa.





2º Capítulo – Mobilidade Social



Então comecemos pelos Sacerdotes. Uma aldeia tão pequena deu ao Serviço de Deus uma plêiade de sacerdotes dos quais já só estão dois vivos, na altura em que fazemos este relato para memória futura. São eles o Missionário da Consolata Reverendo Padre José Torres Neves que, apesar da sua provecta idade, ainda continua a sua caminhada de Missão por terras do Norte de Moçambique. Homem que fez da sua vida uma total entrega aos mais necessitados nos diferentes continentes, Europa em Portugal e Itália onde se pós gradou nos estudos teológicos que lhes permite ser formador dos novos padres africanos, mas também da América Latina onde passou grande parte da sua vida. É também o Reverendo Padre Manuel Alves que em terras alentejanas fez a sua carreira como Pároco e também Professor no Seminário de Beja. Um estudioso das Línguas Latim e Grego e da História e Teologia contidas nas Sagradas Escrituras.

Dos falecidos é justo falar dos Reverendos Padres: - Joaquim Moiteiro que, depois de exercer as funções de Capelão Militar se radicou no Meimão onde paroquiou até ao seu falecimento;

Os quatro irmãos Fatelas – Padre Manuel Fatela que paroquiou o Pedrógão de São Pedro e Caria, onde veio a falecer; Padre Frederico que paroquiou em Seia e também no Canadá; Padre Joaquim que foi Professor na Universidade Católica e responsável da Obra do Gaiato, no Alentejo e lá faleceu; Padre Augusto, Missionário da Consolata que efectuou a sua Missão em África, nomeadamente no Norte de Moçambique onde construiu uma Igreja em honra de Nossa Senhora da Conceição, como lembrança da Padroeira da Terra que o viu nascer.

O Sobrinho dos referidos Padres acima, Cónego Manuel Soares de Oliveira, Professor dos Seminários Menor do Fundão e Maior da Guarda, tendo sido membro da Cúria Diocesana e seu Vigário Geral;

Padre César Fatela, primo afastado dos acima referidos que foi pároco em várias paróquias do Arciprestado de Penamacor e de outros Arciprestados, Professor no Externato Nossa Senhora do Incesso de Penamacor e Examinador externo nos Liceus Públicos da Guarda e de Castelo Branco tendo terminado a sua carreira de sacerdote nesta nossa Freguesia onde veio a falecer. Para além das suas actividades pastorais e docentes era também o Pregador de Serviço nas Festas e Romarias da Diocese para onde era solicitado pelos seus colegas devido ao seu dom oratório e ao seu empolgamento no momento da Pregação;

Padre Tarrinha que além de Pároco de Manteigas também foi professor e proprietário do Colégio Local que proporcionava aos alunos formação liceal do início ao fim;

Padre Bento, prior do Fundão e seu Arcipreste onde trabalhou toda a sua vida e veio a falecer. Muito respeitado naquela localidade e muito influenciador de que vários rapazes iniciassem a sua formação académica naquele Seminário Menor.

Na vida militar, se recuarmos ao século XIX temos de referir o Capitão Martins que fez parte da Guarnição militar de Angola e nela perdeu a vida ao serviço da Pátria. Também houve alguns soldados que foram para a 1ª Grande Guerra Mundial mas que, felizmente, nenhum deles perdeu a vida, ainda que pela Flandres tenham ficado e abandonado totalmente o torrão natal e respectivas famílias. Mais tarde, na guerra colonial, em Moçambique, perdeu a vida o Alferes Miliciano João Nabais.

Também na vida militar em manobras próprias, da iniciação designada recruta, faleceu o Joaquim Tarrinha ao manobrar uma granada de mão defensiva, que o atingiu em pleno e o destruiu completamente.

É de referir também, pelo seu significado, o Tenente Soares que, na reserva, desempenhou as funções de Presidente da Junta de Freguesia tendo construído a primeira Escola (escola masculina) em terreno cedido por familiares seus e alargado as ruas para poderem circular carros de bois carregados. Tal implicou a demolição de alguns balcões, outras tantas cortelhas de porcos e, num gesto que faria corar de vergonha os políticos de hoje, começou por demolir os pertences da sua própria e directa família, dando exemplo ao povo de que para o bem público deve sacrificar-se o bem privado. Teve uma morte macabra devido a desavenças com a esposa e a enteada – casou com uma viúva que tinha uma filha – que lhe transformaram a vida num inferno que ele quis acabar matando as duas e suicidando-se de seguida.

Na marinha destacaram-se o Almirante Fonseca, filho do Professor João José Fonseca (carchola) e o Comandante Lopes que não sendo natural desta freguesia aqui casou e cá se radicou, todos estes na primeira metade do século XX.

Não deixa de ser curioso referir também o Soldado Manuel Neves que fez parte da guarda de honra ao Presidente da República Sidónio Pais, no dia em que este foi assassinado, na estação ferroviária do Rossio em Lisboa em 1919.

Não pertencendo a esta freguesia por força do nascimento mas fazendo parte dela pelo matrimónio houve dois segundos sargentos que foram aposentados compulsivamente, em finais da 1ª República, por comportamento pouco abonatório e radicaram-se nesta terra onde continuaram a fazer muitas das tropelias que fizeram enquanto militares de carreira, oprimindo e explorando os pobres trabalhadores desta terra, ofendendo as crenças religiosas do povo e afrontando a hierarquia da Igreja Católica. Foram, na circunstância, o Sr. Ferreira e o Sr. Leitão. Pessoas a quem se obedecia por medo de represálias mas, comportando-se como senhores feudais, não cultivaram qualquer tipo de amizade.

Muitos outros militares houve que fizeram a sua vida militar, no tempo do serviço militar obrigatório, até metade do século vinte e que de uma forma ou de outra serviram com brio a Pátria quer servindo nas guarnições dos diferentes quartéis e armas espalhados pelo País, do Porto a Lisboa, Tavira, ou Caldas da Rainha, Tomar, Castelo Branco, Covilhã e Penamacor. Até houve casos de, no princípio da década de quarenta do século passado, praças que depois de terem passado à disponibilidade, foram novamente convocados para prestarem serviço em manobras na OTA com vista à sua integração na força de defesa dos Açores, particularmente da base das Lages que, no auge da 2ª Guerra Mundial e sendo Portugal um país neutro, eram pontos geográficos e estratégicos para todos os contendores e, como tal, apetecíveis a todos. O Estado Novo que se quis manter neutro neste conflito viu-se obrigado a defender aquele espaço nacional já que era frequente a sua violação quer por ar ou por mar. As manobras de preparação do contingente cessaram quando em 1943 o Estado Português estabeleceu um pacto com os Estados Unidos da América e este deu contrapartidas monetárias, em armamento e até na empregabilidade do povo, sendo assim, desconvocados os militares destinados ao referido contingente.

Quando teve início a designada Guerra Colonial, que não fora mais que uma disputa entre as grandes potências mundiais para explorarem os recursos económicos das regiões ultramarinas sob jurisdição portuguesa, apesar do País fazer parte de direito e de jure das Nações Unidas, da Nato e até da EFTA e da OCDE, foram mobilizados para defender as populações civis de diferentes cores e raças, muitos militares de todas as patentes, do simples soldado ao oficial general, Major General, João Afonso Bento Soares, passando pelos furriéis e alferes milicianos, sargentos do quadro, até às patentes de oficiais superiores como o coronel João Sena, por exemplo.

Houve ainda oficiais do quadro que iniciaram a carreira como soldados e chegaram à patente de Capitão e Tenente como foram os casos do Capitão Caldeira e do Tenente António Romão. Primeiros-Sargentos e Sargentos-Chefes também houve alguns, pertencentes ao Exército e à Força Aérea.

Muitos destes militares começaram as suas comissões na Índia Portuguesa onde tivemos um soldado corneteiro, função muito importante no exército, e muitos outros militares de diferentes patentes passando depois pela Guiné, Moçambique, Angola, Timor, numa época em que a maioria da população entendia a sua Pátria com início no Minho e indo até ao longínquo Timor.

Sendo um período difícil para a maior parte dos rapazes de 20 anos não deixou de lhes marcar o carácter, quer pelo sacrifício e horrores vividos mas também pelos novos horizontes que descobriram. Florestas e Chuvas tropicais marcantes, savanas, pântanos da Guiné e desertos como os do Namibe em Angola, mas tudo muito amplo, muito grande, se comparado com este pequeno rectângulo à beira-mar plantado. Tudo isto foi relevante para a descoberta e o conhecimento de novas formas de vida que deu azo a mudanças na estratificação social e também no desempenho de diferentes funções, até aí, consideradas inacessíveis.

Nas cúpulas do poder Judicial tivemos o Juiz Conselheiro Messias Bento que fez parte do Tribunal Constitucional durante mais de uma década, e no Tribunais criminais o Juiz Desembargador Celestino Cabanas Bento, o Procurador da República Dr. Manuel Caldeira Bento, Juíza Carla Caldeira Bento Carecho e muitos, muitos advogados, com relevância para o Dr. Mário Bento Soares que foi Governador Civil da Guarda, Deputado da Assembleia Nacional no Estado Novo e mais tarde Director de Serviços no Ministério da Justiça.

Mas também como funcionários judiciais muitos foram os meimoenses que, nesta área, fizeram e ainda alguns fazem, a sua carreira. Nesta categoria não nos podemos esquecer dos inpectores da Judiciária com funções de relevo no combate ao crime.

Na Medicina uma palavra de reconhecimento pela competência e capacidade e inovação do Neurocirurgião, Dr. Francisco José Bento Soares, o mais antigo, que teve um papel relevantíssimo como primeiro neurocirurgião no Hospital Pediátrico de Coimbra, onde foi Director de Serviços e Mestre de muitos outros Neurocirurgiões que eram a nata desta especialidade na Europa a fazer intervenções ao nível do cérebro de crianças e de adultos. Durante a sua carreira efectuou mais de 1400 cirurgias ao cérebro. Hoje já deixou assegurada a sucessão no seu filho Dr. Gustavo que segue as pisadas do pai na mesma especialidade médica.

Mas também, outros médicos especialistas de Medicina Familiar como a Dra. Ana Maria Cerdeira Caldeira que exerce as suas funções em Viseu e vários enfermeiros que, de Lisboa, passando por Coimbra, Covilhã e mesmo localmente, exercem com profissionalismo a sua missão insubstituível no campo dos cuidados clínicos tão necessários ao doente. Não nos podemos esquecer de uma significativa quantidade de enfermeiros de diferentes especialidades, uns falecidos, outros aposentados e outros ainda em funções, que com os demais profissionais são o esteio do Serviço Nacional de Saúde.

Na função Pública continuam a destacar-se Quadros Superiores em lugares de muita responsabilidade das funções do Estado, em todos os Ministérios. Das Finanças à Defesa, da Segurança Social à Assembleia da República. Estes funcionários não pertencem às cúpulas porque não estão filiados em Partidos Políticos e é o seu mérito que lhes dá relevo nas funções que desempenham.

De referir, também, uma figura singular, o Dr. Mário Pires Bento que na Arqueologia, por simples e apaixonado hobby fez caminho relevante e, para os vindouros ficam um museu do qual é patrono na nossa freguesia e, também, foi o primeiro a dar os passos indispensáveis para a criação do Museu de Penamacor.

Por força do Poder Político saído do 25 de Abril de 1974, um regime designado democrático – mas pouco, dizemos nós – apareceram algumas figuras que, como marionetas do Poder Político e também com o seu respaldo, atingiram lugares importantes. Temos nesta circunstância um Vereador voluntário da Comissão Administrativa presidida pelo Sr. José Pinto, que era o Sr. José Cameira. Temos, já elegido democraticamente, como Presidente da Câmara de Penamacor, o Dr. Francisco Martins Ribeiro e Vereador da mesma Câmara, Dr. António Conceição Cabanas. Sem lhes retirar mérito não podemos colocar estas personalidades ao nível das já mencionadas, já que foi por escolha do Poder Político Partidário que alcançaram a ribalta. Em abono da verdade deve-se dizer que o Dr. António Cabanas tem uma profissão na ICNF, é sociólogo, e logo que saiu da Câmara regressou ao seu lugar de origem. O Dr. Francisco Ribeiro foi coproprietário do Colégio de Penamacor dada a conjuntura criada com o 25 de Abril de 74 com os designados contratos de associação em que o Ministério da Educação enriqueceu muitos destes proprietários, pelo país fora e, ainda hoje acontece em alguns casos.

Já que referimos estas personalidades do Poder Municipal não podemos esquecer os restantes autarcas, Presidentes, Secretários e Tesoureiros das Juntas de Freguesia que, como órgãos executivos pugnaram pelo bem deste Povo. Mas, porque é de Justiça, temos de diferenciar aqueles Presidentes que desempenharam as suas funções em regime de voluntariado e aqueles que recebem algum pecúlio monetário para fazerem o mesmo serviço. Antes do 25 de Abril eram nomeados pelo Governo e, como tal, quase obrigados a desempenhar as funções. Depois do 25 de Abril foram todos eleitos mas só a partir de 1982 é que passaram a ser remunerados. Há aqui diferenças que são fruto de políticas e não da responsabilidade de cada um mas que têm, necessariamente, de ser relevadas de forma diferenciada.

Mas, para existir esta gente tão altamente conhecedora e tão altamente colocada, importa referir uma classe que, sem ela, ninguém chegaria a tais patamares. Os professores primários e de outros graus de ensino que, não só ensinaram as primeiras letras a esta gente ilustre, como os incentivou a prosseguir e lhes deu as bases para continuarem a caminhada de irem mais além. Daí a termos tantas e tão prestigiadas figuras que levaram o nome da Meimoa e do Concelho de Penamacor a muitas partes do Mundo.

Não podemos esquecer tanta gente anónima que desta terra levou nome, educação e valores. Foram aventureiros, empreendedores e vencedores na vida altamente competitiva de países mais avançados. Lembramo-nos dos nossos emigrantes. Primeiro para o Brasil, depois para a África, Angola, Moçambique, que sendo consideradas terras portuguesas, não deixavam de ser locais para onde a emigração era, porventura, mais difícl. Para a França, para o Luxemburgo, Suíça, Alemanha e outros países da Europa Ocidental. Também estes mostraram a têmpera de que são feitos os Homens e Mulheres da Meimoa e merecem todo o nosso respeito. Muitos deles analfabetos, conhecendo mal a Língua Pátria e desconhecendo, em absoluto, as Línguas Estrangeiras aí singraram na vida e deram aos seus filhos ferramentas que lhes possibilitaram fazer vida e melhorar significativamente as suas condições sociais e económicas.





3º Capítulo – Vida Quotidiana



Vida social: - O dia-a-dia foi sempre de trabalho duro do campo. As famílias eram, em regra, muito numerosas.

Não havia nem água, nem Luz eléctrica nem saneamento básico até à década de cinquenta do século passado, data da inauguração da energia eléctrica. Passados mais vinte anos a freguesia foi dotada de água ao domicílio e na década de oitenta foi construído o saneamento básico.

Enquanto não havia nada destas condições a iluminação era à base da candeia de azeite e os serões eram passados à lareira onde se reuniam avós, pais e filhos, sentados em “tropeços” de cortiça e aí eram contadas as histórias e as lendas de moiras encantadas, lobisomens e outras personagens que levavam as crianças ao imaginário das coisas boas e felizes da vida.

De salientar uma peripécia importante nesta freguesia.

De todos é sabido que durante o Estado Novo as eleições eram levadas a cabo em Lista única da União Nacional, única entidade com permissão para apresentar lista para eleições que, como simulacro que eram, queriam aparentar alguma democracia. No entanto, sem que fosse do conhecimento da generalidade do povo, sempre que houve eleições para órgãos nacionais ou locais apareceram mais do que uma lista, sendo, como é óbvio, uma representativa da oposição. Esta oposição difusa, desconhecida, mas sempre presente e, muitas vezes ganhava esta. Na circunstância era necessário recorrer ao Governo Civil e à GNR para de forma abusiva, adulterarem os cadernos eleitorais e assim ganhar a lista da situação e tudo ficar na paz e no bem. Mas, para se chegar a este ponto, muitas vezes havia bordoada de criar bicho, com fogueiros e arrochos, paus de marmeleiro e outros tipos de materiais contundentes que, por vezes, deixavam muitas cabeças partidas ou muitas costelas rachadas.

Não podemos também esquecer que, quando da implantação da República em 5 de Outubro de 1910 a população viveu muitos anos dividida politicamente entre republicanos e monárquicos, que faziam, à vez, as suas manifestações prós e contras, com vinho a granel e muita arrochada pelo meio. Porém, a maior parte das pessoas dava-se bem fora desses períodos conturbados.

Até porque, se nos aprimorarmos, podemos descortinar e descobrir que, até à primeira metade do século XX havia cerca de uma dezena de famílias nesta freguesia, aqui e ali salpicada por algum forasteiro, homem ou mulher, que pelo matrimónio, vinham fazer parte desta população.

Assim, grosso modo, pode-se dizer que na época, pontuavam as famílias Bento, Cabanas, Fatela, Andrade, Caldeira, Pires, Pina, Fonseca, Martins e Soares.

Era entre estas famílias que se consorciavam as novas gerações o que dava origem a uma constatação até aos dias de hoje. Todos os oriundos desta freguesia têm entre si algum grau de parentesco mais ou menos longínquo. Por issso, é comum dizer-se, que na nossa freguesia toda a gente é prima de toda a gente.

Sem comentários:

Enviar um comentário