sábado, 11 de junho de 2022

OEMBUSTE!

 

O EMBUSTE!

Em contacto com pessoas muito respeitáveis, pelos valores éticos e morais que defendem e praticam, vim a saber de viva-voz, que o descontentamento dos trabalhadores da saúde, que prestam serviço no SNS, é total e cada vez mais gritante.

É a falta de condições de trabalho. É a falta de recursos humanos e materiais. É a falta de perspectivas de vida e de carreira. É a miserável remuneração do pessoal mais qualificado, médicos, enfermeiros, técnicos superiores.

A situação é tão grave que um médico a caminho da exaustão total, por exemplo, se vê na necessidade de pedir desculpa aos doentes, pelas horas de espera que se viram obrigados a ter, porque o médico, especialista, é o único da sua especialidade e tem de dar resposta a cirurgias, internamentos, consultas externas de diagnóstico e de manutenção. Para cúmulo esse médico tem uma remuneração de 2.300€, por mês, com um horário de 40 horas semanais.

Alguns virão já dizer que, em contrapartida, há outros médicos que não fazem nada no SNS, para depois poderem ganhar muito dinheiro na medicina privada, particular ou em Clínicas ou Hospitais privados, onde aí dão o litro para cumprir objectivos. Até podem ter razão, mas, enquanto houver situações como as que acima referi o que é que querem? Então a motivação não é meio caminho para a eficiência? Então a remuneração não faz parte dessa motivação? Então o descanso não é fundamental para repor energias para um desempenho mais eficaz?

Se as respostas às perguntas for sim, e parece-me que ninguém de boa-fé possa dar outra, o que é que fazem os dirigentes a montante das organizações? O que é que tem a dizer o primeiro-ministro, a ministra da saúde, a Ordem dos médicos?

Não será altura de rever os critérios de acesso ao curso de medicina onde, paralelamente, ou complementarmente às notas do ensino secundário estejam testes vocacionais, valores éticos e morais, disponibilidade total e sensibilidade fraternal para com quem sofre? Não será altura de acabar com limitações à entrada nos cursos de medicina e esperar que a concorrência faça a selecção natural de quem é competente e esforçado por oposição ao baldas?

Não será tempo de rever o estatuto remuneratório deste pessoal, indispensável ao bem-estar da população e da qualidade de vida até ao términus inevitável?

Francamente estou cada vez mais farto de ouvir demagogos, populistas, a prometer-nos o céu e dar-nos o inferno. Já não posso ouvir os coveiros do SNS, com suas propostas inexequíveis, armados nos seus mais acérrimos defensores e, aqui incluo o Governo e o partido que o suporta, o Bloco de Esquerda, o PCP, o Livre, o PAN e depois não se olha para o caos que está instalado há anos e que só sobrevive à custa do esforço denodado dos seus trabalhadores.

Ninguém vê que não é admissível que Hospitais não possam aceitar doentes urgentes por doença ou acidente e fechem urgências de diferentes especialidades? Como é que um doente com um AVC ou um ataque cardíaco não pode ser atendido na Urgência de Leiria e tenha de ir para Coimbra, ou do Seixal tenha de ir para Lisboa porque o Garcia de Orta não tem médicos especialistas nas urgências?

E se desviamos o olhar para a periferia o problema é muito mais grave e muito mais agudo. O que acontece no Hospital da Guarda que, tantas vezes, tem de mandar doentes, que já se deslocaram de Almeida ou Pinhel, para o Hospital de Viseu. Se descermos no mapa do país podemos ir até ao Algarve e assistirmos a deslocação de doentes para Lisboa, porque Faro e Portimão não têm resposta para casos de gravidade extrema.

E perante este verdadeiro cenário de terror a ministra da saúde não bate com a porta quando o ministro das finanças não lhe dá os recursos mínimos para que estas situações não acontecessem?

E o primeiro-ministro não tem vergonha de vir papaguear para as câmaras de televisão com atoardas de aumentos de 20% nos salários nos próximos quatro anos e na semana de trabalho de quatro dias?

Francamente, um país assim, não passa de uma caricatura se comparado com países, verdadeiramente, evoluídos.

Na véspera do Dia de Portugal gostaria de escrever algo de mais positivo, de mais motivador, mas a realidade sobrepõe-se aos desejos.

9/06/2022

Zé Rainho

 

 

 

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