quarta-feira, 22 de junho de 2022

PENSAMENTO!

 

Pensamento!

 

Em minha opinião, os velhos deviam eximir-se de pensar, porque lhes faz mal, irrita-os.

Porque são velhos, já viram muita coisa e os factos vividos e ou presenciados, fazem deles seres um tanto objectivos que colidem, facilmente, com a narrativa em moda e do pensamento veiculado pela opinião publicada e isso torna-os taciturnos, cépticos e desapontados.

A História, particularmente a História moderna, é a narrativa de factos, sem julgamentos, nem opiniões, sem coloridos diferenciados, consoante os auto-intitulados historiadores da nossa praça.

A História há muito que passou a ser uma ciência, que se baseia em evidências científicas irrefutáveis e não se coadunam com opiniões, por mais abalizadas que elas sejam, nem se compadece com voluntarismos, mais ou menos insensatos, de investigadores proletários que, por força da sua precariedade laboral, se vêem forçados a alinhar no modismo vigente de quem paga os seus serviços.

Se atentarmos no nosso país, fácil será intuir que, em pleno século XX era constituído por um povo, maioritariamente, ruralizado, analfabeto, numa enormíssima dimensão. Que tomou uma posição neutral na segunda guerra mundial e por isso não beneficiou do Plano Marshall, continuando pobre e subdesenvolvido. Que tinha uma polícia política, que era um estado dentro do Estado, que não podia ter umas forças armadas capazes, da mesma maneira que não tinha uma indústria, um comércio e uma agricultura capaz.

O País foi sempre pobre e sem possibilidades de proporcionar ao seu povo as necessidades básicas preconizadas por Maxwell.  Houve, porém, nesse período temporal, um facto importante. A escola passou a ser obrigatória em meados do século e as escolas Normais foram reactivadas para formar docentes mais capacitados.

Vem tudo isto a propósito do Golpe de Estado do 25 de Abril de 1974.

Vejamos: -

No século XV foram os descobrimentos que ajudaram na subsistência da população. Seguiu-se o povoamento de territórios descobertos o que aliviava a pressão no recanto europeu, à beira-mar plantado. Depois uma emigração diversificada, ainda que de reduzida dimensão, para o Brasil e América Latina.

As colónias, nomeadamente Angola, servia para receber os condenados pela justiça que eram designados por degredados. Para os restantes que quisessem demandar aquele território necessitava de obter uma carta de chamada, assinada por um residente com capacidade financeira para assegurar a sobrevivência de quem chamava e, caso fosse necessário, proceder ao seu repatriamento, documento reconhecido notarialmente. Daí a dificuldade da emigração para as colónias ultramarinas, mais tarde designadas por Províncias Ultramarinas.

No final da década de cinquenta e princípio da década de sessenta iniciou-se uma emigração clandestina, mas em massa, para a França, seguindo-se, mais tarde, outros destinos, Alemanha, Luxemburgo, Suíça, entre outros. Também Angola recebeu alguns emigrantes autorizados pelo Governo e dirigidos a colonatos implantados pelo Estado e, a seu reboque, mais alguns que tinham conhecimento com alguém já instalado no território. Porém, o rácio português indígena era bastante baixo para um território tão extenso.

Os europeus, na sua maior parte, tinham colónias em África e, nalguns casos, a exploração do indígena era, deveras chocante, com apartheid, com discriminação, com abusos de poder. Não era o caso de Angola, salvaguardando sempre a possibilidade da existência de alguns casos como os referidos, mas sem a dimensão e a crueldade de outros territórios. Por exemplo, o Congo Belga funcionava como uma coutada do Príncipe Leopoldo II da Bélgica.

A evolução natural é a autodeterminação dos povos. Quanto mais atropelos há em relação aos direitos humanos, mais se acende a fogueira da insatisfação e o incêndio no seio da sociedade pela independência é uma realidade num curto espaço de tempo.

Assim, em 1960 a Bélgica viu-se obrigada a dar a Independência ao Congo Belga, no meio de refregas e terror junto da etnia branca. A França faz o mesmo com a Argélia.

Estes factos aliados ao, cada vez maior número de jovens angolanos e portugueses, mais politizados que viviam em Angola fez despertar uma consciência que começou a tomar corpo. Entre essa juventude até se dizia jocosamente: “Angola é uma vaca que tem as tetas na Metrópole e os cornos cá. É preciso alterarmos a situação trazendo as tetas para cá e deixando os cornos lá”. Consequentemente organizaram-se Movimentos pró-independência fora do território que, desde logo tiveram apoio das diferentes potências mundiais e o combate aceso das Nações Unidas a Portugal por se recusar a dar a dita independência.

Para abreviar, vamos a mais uns factos. Em 4 de Fevereiro de 1961 um grupo mal-organizado, mas apoiado por alguma cúpula da Igreja Católica e de outras religiões, decidiu atacar a Casa da Reclusão de Luanda e a sétima Esquadra da Polícia de Segurança Pública, na tentativa de obrigar o regime político português a ceder aos interesses dos independentistas e, principalmente, das potências estrangeiras interessadas nas fontes de riqueza existente no território. Houve algumas mortes e alguma barbárie pondo em confronto raças até aí conviventes em alguma harmonia.

Seguiu-se a revolta dos trabalhadores da Baixa do Cassanje onde a barbárie foi mais acentuada, com várias mortes e laivos selváticos praticados pelos dois lados da barricada.

Nessa época Angola tinha, apenas, um simulacro de Forças Armadas e um corpo policial reduzido, sendo que a ordem pública era assegurada por Administradores Distritais e Chefes de Posto Concelhios, com o seu quadro diminuto de sipaios.

A Metrópole não estava muito melhor em termos de Forças Armadas já que não tendo entrado na Guerra e fazendo parte da NATO apenas precisava de algumas forças que não deixassem o país mal na fotografia.

Quando aconteceu o fenómeno apelidado de terrorismo em Angola, que. pouco mais tarde alastrou aos restantes territórios, Salazar teve a tirada junto da Brigada do Reumático (Generais velhos de mente e de corpo) “para Angola, rapidamente e em força”. De facto, foram enviadas alguns, poucos, militares de avião, no início da rebelião e pouco a pouco maiores contingentes de navio, a partir de Maio de 1961. Em qualquer dos casos tratou-se de tropas mal preparadas e muito mal apetrechadas de armamento. A maior parte do armamento era constituído por espingardas Mauser e pistolas Walter. O Comando era, maioritariamente, das patentes menores, Alferes e Furriéis, milicianos, que interromperam os seus estudos em níveis mínimos, respectivamente com o 7º ano do Liceu ou cursos superiores interrompidos, 2º ou 5º anos liceais e as praças com a 4ª classe. Os capitães comandavam companhias que, em geral, estavam ou ficavam aquarteladas em aglomerados populacionais e não entravam em combate.

O, dito, terrorismo, nunca teve grande expressão nas cidades capitais de Distrito e, a partir de 1963 foi reduzido a bolsas pouco significativas em todo o território porque, entretanto, o efectivo militar tinha sido substancialmente aumentado e o armamento muito melhorado, para além dum número significativo de tropas especiais, comandos, paraquedistas, fuzileiros e os reforços dos três ramos das Forças Armadas, exército, armada e força aérea.

Por outro lado, a economia de todo o território teve um desenvolvimento exponencial que mitigava algumas injustiças e trazia mais bem-estar a toda a população, independentemente da raça ou cor da pele.

A guerra colonial, para além de alastrar territorialmente, alastrou no tempo de duração e também foi fazendo estragos na motivação da juventude que via a sua vida condicionada, na maior parte das vezes, por mais de três anos de vida militar obrigatória.

Independentemente da consciencialização política o mal-estar foi fazendo o seu percurso ao longo dos anos, o descontentamento populacional português e angolano foi terreno fértil para a actividade subversiva, que era desenvolvida interna e externamente. No exterior era ainda fomentada pelas grandes potências internacionais e apoiada pelos povos vizinhos dos territórios sob administração portuguesa.

Outro facto foi o afastamento, por doença, incapacitante, de Salazar do lugar de 1º Ministro, sendo substituído no cargo pelo Professor Marcelo Caetano que, sabe-se hoje, nunca conseguiu impor uma política pessoal e foi sendo arrastado para um pântano onde a PIDE, por um lado e as altas patentes das Forças Armadas por outro, o enredaram, frustrando uma expectativa muito promissora que apareceu em 1968.

Ainda outro facto foi o envolvimento de cerca de um milhão de militares em todo o teatro de guerra que estava completa e totalmente ganha, em todos os territórios, com alguma dúvida na Guiné, mas que necessitava de uma cadeia de comando de mais elevada patente, nomeadamente a nível de capitão, e na impossibilidade de uma formação adequada, por Despacho Ministerial foi decidido que os tenentes milicianos poderiam aceder ao posto de capitão, desde que frequentassem um curso intensivo de um ano. Comparando com os cinco de Academia Militar que os Capitães do Quadro tinham que fazer e mais, pelo menos sete anos para chegar ao posto de capitão concluía-se que havia aqui alguma, muita, dose de injustiça.

A guerra que iniciou com milicianos passou também a ser feita por militares dos Quadros logo, uma maior rotatividade e, devido à falta de recursos humanos os capitães foram obrigados a maior número de mobilizações para comissões, com poucos anos, ou mesmo meses, de intervalo, o que gerou muito descontentamento.

A sucessão de factos elencados conduziu ao golpe de Estado corporativo levado a cabo pelos capitães no dia 25 de Abril de 1974.  A adesão popular a este evento transformou o golpe em revolução que, de facto não o foi, por várias razões.

As pessoas estavam sedentas de liberdade o que era deveras compreensível, dado o silenciamento de mais de quatro décadas. Mas, logo a seguir, surgiram os donos da liberdade e do próprio golpe de estado. Na circunstância, tentaram apropriar-se da hipotética revolução o Partido Comunista Português e toda a extrema-esquerda radical existente no país, ainda que rotulada, pelo antigo regime, de comunistas.

Os militares do Conselho da Revolução, mais uns tantos radicais existentes nos quartéis, muito ligados ao PCP, tentaram definir quem eram os portugueses com direito à liberdade e quem eram os que deviam ser presos sem culpa formada e sem qualquer tipo de julgamento.

Álvaro Cunhal, ministro sem pasta, para poder ter as pastas todas, mandou instrumentalizar os trabalhadores, operários, trabalhadores rurais e dos serviços, para que o poder caísse na rua e assim poder avançar para uma nova ditadura, desta vez, comunista de ideologia soviética, com intervenção directa, ainda que sub-reptícia da Rússia que então, ainda era a URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas). Valeram os militares moderados, povo moderado do Norte e do Centro do País e Mário Soares, que frustraram tal ambição.

O 25 de Novembro foi o golpe de misericórdia nas pretensões do PCP que, com a conivência de Otelo Saraiva de Carvalho passou para a luta armada com as, tristemente célebres FP 25, que causou morte e dor muito superior à que foi causada pelo Golpe Militar de 25 de Abril.

Hoje, passados 48 anos, vemos uns rapazinhos e umas rapariguinhas, que não têm noção, nem conhecimento e muito menos experiência, querer ditar quem são os donos do 25 de Abril. Tudo gente captada no alfobre socialista que é o ISCTE.

Não deixaremos que tal aconteça e, nestes quatro anos que agora se iniciam, de comemorações do cinquentenário do 25 de Abril, não deixaremos de levantar a nossa voz contra estes projectos de ditadores e dizer com toda a pujança que o 25 de Abril não tem donos específicos. O 25 de Abril é de todos nós, os portugueses.

21/04/2022

Zé Rainho

 

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