quarta-feira, 6 de julho de 2022

NEVOEIRO!

 

NEVOEIRO!

O nevoeiro é um perigo para a navegação. Esconde perigos vários. Oculta a presença de obstáculos. Por isso, quando há nevoeiro torna-se necessária maior atenção, mais discernimento, maior prudência.

Quando o nevoeiro é muito intenso a nossa visão não alcança a distância que nos separa do abismo.

Vivemos um momento desses no nosso país. O abismo está aí à nossa frente e não o conseguimos ver, porque há forças poderosas que lançam compacto nevoeiro aos nossos olhos, para que não vislumbremos o desastre.

O caos no serviço nacional de saúde é indesmentível. Quem necessita de recorrer a um qualquer serviço sabe, à partida que, no mínimo, tem de esperar. Esperar horas, meses, ou anos, dependo da necessidade de cada um.

Não vale a pena vir dizer-se que a culpa é dos médicos, dos enfermeiros, do pessoal auxiliar porque, sabendo-se que em todas as profissões há maus profissionais e aqui não é excepção, há muita gente a fazer das tripas coração para que os Serviços funcionem. Mas também não vale dizer-se que a culpa não é de ninguém porque, afinal, somos um país pobre. Há culpa e há culpados e esta e estes estão sentados na cúpula da organização.

Quando um qualquer profissional se sente menorizado nas suas funções, desprotegido pela sua hierarquia, desmotivado pelas más condições de trabalho, de remunerações inadequadas, sem perspectivas de futuro, uma de duas acontece: ou sai, vai embora, procurar lugar onde reconheçam o seu mérito e empenho profissional ou, encosta-se à sombra da bananeira, deixando passar o tempo porque, assim como assim, tanto ganham os cumpridores como os relapsos.

Se na Saúde é assim há muitas semelhanças nos demais sectores da nossa vida colectiva. A Educação, a Justiça, a Segurança, o Serviço Aeroportuário, a Economia, a Agricultura, entre muitos outros. Se isto é verdade e a mim parece-me que é, porque é o povo, que sofre na pele, todas as agruras resultantes desta inoperacionalidade, não se manifesta, não diz nada?

Certamente haverá muitas respostas para a pergunta anterior, tantas quantas as opiniões individuais, mas a minha é a de que o nevoeiro, propositadamente, lançado aos olhos do povo, não o deixam ver o caminho alternativo e a prudência atribuída ao Velho do Restelo, característica do nosso povo, manda-o estar quieto. Não arrisca. Não tem a fibra dos Navegadores de outrora.

A semana passada houve uma crise governamental gravíssima, parece ninguém ter dúvidas disso, pois os factos demonstram-na à saciedade, mas fica tudo na mesma porque é melhor não fazer ondas.

O Presidente da República sofre uma humilhação de um chefe de estado estrangeiro que, no mínimo, é um bacoco e o Governo fica-se. Os Serviços diplomáticos não acautelam todos os percalços para que o País não saia menorizado e todos assobiam para o ar.

A Comunicação Social cala-se. Terá as suas razões. Não lhe deram dinheiro por causa da pandemia? Não tiveram e têm comentadores amestrados? Não têm jornalistas que não podem ser independentes, porque se o forem, correm o risco de não ganhar o pão nosso de cada dia? E os lugares de assessoria, de comissões várias, não contam?

O Nevoeiro é muito perigoso é preciso sete olhos para o desvendar, mas não podemos ficar quietos no nosso canto, quando vemos que o abismo está à nossa frente e já vemos toda a gente com o pé no ar para avançar. É preciso dizer: parem! Vejam por onde vão e para onde caminham. É o que tento fazer.

6/07/2022

Zé Rainho

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