segunda-feira, 13 de novembro de 2023

Urgente!

 

URGENTE!

O mundo das correrias faz-nos acreditar na urgência constante, persistente e premente. É tudo muito urgente. É tudo para ontem. Não há tempo para nada, porque os problemas são mais que muitos e é urgente dar-lhes solução imediata.

Assim, os pais não têm tempo para os filhos e os filhos não têm tempo para os pais, nem hoje nem no futuro que é já amanhã, por isso quase que se pode dizer que se nasce nas creches e se morre nos lares.

Enquanto os filhos são pequenos, adolescentes e jovens, os pais andam num virote a levá-los e a buscá-los aos mais diferentes lugares e espaços. À escola, depois ao estudo acompanhado, ao desporto escolhido por cada um, sempre diferente um do outro, raramente à catequese, o pai para um lado, a mãe para outro, sacrificando descanso, lazer, diálogo, reflexão, para que os seus pimpolhos não se diferenciem dos outros e que pertençam ao rebanho e não se dispersem da manada. O que importa é o padrão e não a diferença.

É muito urgente dar tudo para que o menino(a) não se traumatize. Ir a pé para a escola, ginásio ou local das explicações, mesmo que não distem mais do que um quilómetro da residência, é impensável, pois pode estar sujeito a roubos, a acidentes, a bullying dos colegas ou de outros miúdos. Mantê-los numa redoma, imunes a qualquer tipo de dificuldades, de obstáculos é um dever e uma obrigação paternal, para que o menino(a) viva no melhor dos mundos, nem que para isso os pais sofram burnout, depressão ou qualquer outro tipo de distúrbio emocional.

Nunca, ninguém se questiona sobre para que serve tanta urgência e se esta é assim tão importante.

Neste estilo de vida alucinante haverá tempo para definir prioridades e sensibilidade para avaliar o que é, deveras, importante?

Se isto é inquietante ao nível das famílias não deixa de ser preocupante ao nível da sociedade.

Quando, numa comunicação ao país o senhor primeiro-ministro diz que é urgente decidir sobre investimentos avultados vem-nos à ideia esta questão comezinha: o que é mais benéfico para a sociedade, o que é urgente ou o que é importante?

A urgência na obtenção de investimentos para o desenvolvimento do país pode ultrapassar a importância da legalidade, da transparência, do cumprimento das regras iguais para todos, sem favorecimento de quem quer que seja?

Quando Max Weber estudou e deu ao mundo a teoria sobre a burocracia estaria a pensar em travar as decisões ou, pelo contrário, pretenderia harmonizar as decisões com a defesa do bem comum, do interesse público?

Parece-me que é tempo de conciliar o que é urgente com o que é importante, dando, primazia ao importante e secundarizar o que é urgente para que este não se torne numa inutilidade.

Parece-me, ainda, que é preciso destrinçar muito bem o que é importante para se esbaterem urgências que, de facto, não o são.

Por fim, julgo que toda a sociedade teria muito a ganhar se se capacitasse que nem tudo o que é urgente é importante, mas que tudo o que é importante, raramente é urgente.

13/11/2023

Zé Rainho

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