sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Mistificação

De uma forma geral, não gosto de alemães. Surgem nos meus arquétipos como esbirros Hitlerianos. Sou injusto, com certeza. Mas que culpa tenho eu de ter nascido em tempo de Guerra provocada por eles?
Sou avesso a generalismos e a generalidades. Dói-me escrever estas palavras, mas sinto necessidade de o fazer, para aliviar o sentimento de frustração.
É que ver um povo que, há pouco mais de 60 anos, ficou sem homens - braços de trabalho e produtividade, à época - passa dos escombros e da destruição a motor da economia Europeia, que quando espirra toda a Europa se constipa. E fico zangado comigo mesmo por não gostar de alemães. No fundo, talvez um bocadinho de "inveja" de uma capacidade organizativa, de trabalho e esforço que não vejo no meu povo, na minha gente. Eventualmente, será isso. Seja o que for, por questão de justiça e de equidade, por análise imparcial não posso deixar de admirar a capacidade de superação deste povo, de que não gosto, reafirmo.
Numa altura em que o Eurostat e todos os Organismos que estudam as Estatísticas que nos regem, mostram que a Alemanha cresceu 2,2% no último trimestre e não se ouve uma palavra de regozijo dos seus governantes, antes pelo contrário, dizem que é preciso fazer mais e melhor nós, por cá, ouvimos um PM que, cada dia que passa mais me enoja a sua presença, mesmo virtual, dizer que "a nossa economia está no bom caminho já que crescemos de forma sustentada, dois trimestres seguidos" - palavras dele - 0,2% . E fico triste. Torno-me melancólico. Parece que me envergonho de pertencer a esta plêiade de gente que vive e convive bem com mistificações, com aldrabices, com demagogia.
Fico revoltado quando tenho conhecimento de que temos no nosso País, mais de cem mil Jovens, até aos 30 anos, à procura do primeiro emprego e estão desempregados há mais de um ano. Ontem, no dia Internacional da Juventude, ficou patente que a taxa de desemprego dos jovens é mais do dobro da média dos restantes desempregados. E, por mais que eu queira não posso ficar indiferente. Porque sendo um velho, quero acreditar que o futuro está nos jovens. Tenho a certeza de que a maioria deles é mais qualificada do que era a minha geração. Então o que justifica esta imoralidade? O que pensa de todos nós a classe política? Quando com as declarações acima referidas vem por-se em bicos de pés com este crescimento miserável. Menos de 6,8% do que era o crescimento anual da década de 60 do século XX, mesmo mantendo uma guerra colonial desastrosa.
Esta gente chama-me mentecapto. Burro. Imbecil. Todos os dias e a todas as horas. E eu não suporto tal. Não consigo. Devia abster-me para viver em paz e tranquilidade, até porque tenho um nível de vida acima da média, mas não posso. Não é do meu feitio demitir-me das minhas responsabilidades e não posso conformar-me com esta situação. Por isso, por não poder fazer mais, escrevo o que me vai na alma e desabafo, expondo-me ás críticas e, porque não, a eventuais discordâncias.
Fica o desabafo sobre as mistificações constantes, frequentes e com tempo de antena que não merecem.

6 comentários:

  1. Apenas consigo ser solidária com toda essa indignação pois é a verdade não só do que lhe vai na alma, mas do que corre nas veias deste país. E não é um problema do presente e do passado ... é como diz, é um poço que se está a escavar cada vez mais fundo com destino ao futuro. E é pedido para os jovens tirarem cursos, uma vez que sem eles o desemprego era quase garantido... mas agora nem sei quem consegue dizer a quem está a profissionalizar-se que ... se calhar... nem assim terão futuro!

    Felicito-o, mais uma vez, pela sua capacidade em expor desta forma tão nobre e lúcida esta indignação justificada com exemplos que revelam o profundo conhecimento dos assuntos que apresenta! Admiro a sua coragem e frontalidade e seja ou não desabafo, todos temos limite.

    Beijinhos!

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  2. À semelhança da JB, também eu gostaria de deixar uma palavra de apreciação pela clareza com que se expressa, assim como pelo grau de fundamentação e conhecimento daquilo que expõe.
    Talvez não venha a propósito, mas lembrei-me, a propósito da forma como inicia este texto, de uma entrevista ao nobel alemão Gunter Grass. Fez-me repensar. Quando questionado sobre a "certeza que teria sobrevivido ao nacional-socialismo sem sujar as mãos caso tivesse nascido mais cedo e já fosse adulto quando a Segunda Guerra Mundial rebentou", ele responde que não pode dar essa garantia, no fundo, e assim o interpretei, porque o nossa (i)moralidade é influenciada, amenizada, pelo sentido do colectivo.

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  3. JB!
    Fico muito grato pelas suas palavras e pela solidariedade no desabafo. Ás vezes dá-me a "travadinha" e digo coisas que não são politicamente correctas, mas sou assim, que se há-de fazer.
    Dá-me conforto saber que há pessoas nobres a pensar como eu e, também, não se conformam com o fatalismo.
    Alivia-nos despejar a indignação.
    Bem-Haja, mais uma vez.
    Beijinhos
    Caldeira

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  4. E.A.
    Ainda bem que convergimos no sentimento de (i)moralidade existente neste Portugal dos Pequenitos, em que nos transformámos.
    Agradeço as suas palavras. Faz-me bem o Ego. E entendo que podemos ser poucos, mas os que preservamos os valores da ética e da honradez, ainda que sejam vozes que bradam no deserto hão-de, algum dia, ter eco.
    Abraço
    Caldeira

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  5. Olá, Zé Caldeira!
    Vim só dar-te um abraço, pois regressei ontem de férias.
    Já vi que continuas a escrever com acutilância e lucidez. Ainda bem, nós agradecemos.

    Um forte abraço

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  6. Olá Agostinho!
    Fizeste boas férias? Correu tudo bem? Descansaste?
    Eu ainda não fui de férias. Tenho aqui alguns condicionalismos pessoais e, se Deus quiser, irei à Madeira mais a minha mulher a 10 de Setembro.
    Obrigado pelas palavras amigas.
    Um grande abraço.
    Caldeira

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