domingo, 24 de abril de 2022

Abrilada

Há quarenta anos, faz hoje, precisamente,

Vivia num fulgor de juventude, contente.

Com projecto de futuro onde docemente,

Com calor físico e humano pungente,

De uma terra promissora para toda a gente.


Hoje estou na Guarda a tratar dos ossos,

Com frio na alma e o coração em destroços.

Neste contraste com que a vida nos contempla,

Sem que fossemos ouvidos ou achados,

Mas no qual há, com toda a certeza, culpados.


Que vivem impunes, sem castigo, abastados

De coisas e haveres materiais mal arranjados,

Com a consciência pesada de bastardos,

Se ainda lhes restar alguma lucidez de javardos,

Ao recordarem atitudes e actos malfadados.


Alguns já morreram, que Deus lhes perdoe

Outros vegetarão na sua senilidade e demência

Esperando, porventura, dos outros benevolência

Para tanta tirania e maldade da qual foram mentores,

Em toda a sua ignóbil e miserável existência.


Deus todo Misericordioso os julgará e punirá

Já que os homens com poder não o fizeram.

Então talvez tenham tempo na agonia de cá,

De olhar para trás e terem vergonha do que disseram.

Das atitudes e actos que protagonizaram por cá.


Por nós estamos de consciência em paz

Porque fomos e somos portugueses de honra

De trabalho, de solidariedade, amizade capaz

De tornar esta Nação exemplo e nunca,

Perante outros povos se envergonha.


O mês não tem culpa mas sempre que houve,

Abrilada em séculos próximos ou remotos,

Este Pais demorou anos a erguer-se dos destroços,

Das ruínas que os traidores à pátria foram devotos,

E o povo humilde e patriótico viveu anos a pão e couve.


Zé Rainho.

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