domingo, 24 de abril de 2022

USURPAÇÃO!

  USURPAÇÃO! 


Na noite de 24 de Abril, madrugada e dia 25 de Abril de 1974, um capitão honrado e patriota, Salgueiro Maia, entrou de peito feito, em Lisboa, vindo de Santarém, com a sua tropa, disposto a tudo e este tudo era dar a própria vida, pela causa em que acreditava. 

Profissional, organizado, competente, dialogante, assertivo, determinado, apostado no bem comum e não no seu umbigo, chegou ao Centro do Poder vigente e, franca, honradamente e com probidade, disse ao Primeiro-ministro que estava preso em nome do povo e da revolução que ele ali representava. Que era bom que se rendesse e entregasse o Poder para evitar derramamento de sangue.

O Primeiro-ministro de então, Professor Marcelo Caetano, com semelhante honradez, dignidade e educação disse que se rendia desde que passasse o poder para as mãos de um oficial general e não o faria a um simples capitão. Que mandasse chamar o General Spínola, um general desalinhado consigo e com o seu programa político, mas que considerava um Homem de Estado e assim entregaria o poder sem reservas. 

O capitão Salgueiro Maia, dignamente, com o mesmo sentido de responsabilidade, mandou recado a Spínola para se encontrar com Caetano e os três definiram os termos da rendição sem violência nem caos.

Por estas razões objectivas, o 25 de Abril de 1974 foi uma transição pacífica de regime e uma festa apoiada pelo povo e, por isso e só por isso, não houve revolta nem tiroteio, usual em muitos golpes de estado. 

Consequentemente, o 25 de Abril é um dia da liberdade total, sem peias ou condicionamento. A liberdade é de todos e para todos, sem restrições, mesmo para os inimigos da liberdade e, por isso mesmo, não é propriedade de ninguém, mas património de todos. 

Talvez, tenha sido esta a dimensão de liberdade que permite que, passados 48 anos, ande por aí uma tribo, diminuta mas ruidosa, a querer, ilegitimamente, apoderar-se de um património que é de toda uma pátria, uma nação, um povo, apresentando-se perante a opinião publicada com uma superioridade moral, que não possui, nem merece, por todo um historial de atitudes antidemocráticas que é a sua práxis. Até se arroga o direito de influenciar a decisão do político legitimamente eleito, sobre quem deve ou não condecorar com a Ordem da Liberdade ao reivindicar que Spínola não deve ser condecorado. Eu também não concordo com a decisão de atribuir esta Ordem a Rosa Coutinho e Vasco Gonçalves, mas sinto que não tenho o direito de mandar recado ao Presidente da República para aceitar, como bom, este meu pensamento. 

Serenidade e bom senso é uma lição do 25 de Abril, não os defraudemos. 


24 de  Abril de 2022


Zé Rainho

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