quinta-feira, 14 de abril de 2022

MEMÓRIAS!

 Diz-se cá no burgo que o tempo é um cavalo, passa a correr e, porventura, haverá alguma razão nesta apreciação. 

Parece-me, pelo menos a mim, que foi ontem e já passaram 59 anos, que num domingo de Páscoa, na circunstância, no mesmo dia do mês, pelo meio dia pus os pés no cais de Alcântara, em Lisboa, depois de ter passado dez dias em viagem pelo Atlântico vindo de Luanda. 

Desde manhã cedo se avistava a cidade, mas o navio Angola, de seu nome, estava parado entre o Bugio e Lisboa porque, segundo informações do pessoal de bordo, era necessário esperar pela maré cheia para que na sua passagem não abalroasse o cabo submarino que existia entre os alicerces dos pilares da Ponte sobre o Tejo, ponte Salazar, ou ponte 25 de Abril, como quiserem, que estava no início da sua construção.

Havia oito anos que tinha deixado Lisboa rumo a Luanda. Regressava de Férias e com uma missão muito especial, participar no Grande Encontro da Juventude, que teria lugar nos dias 21 e 23 de Abril, representando a JOC de Luanda.

Momentos que estão gravados indelevelmente na memória de um velho, enquanto essa memória se mantiver desperta. 

Pode-se dizer que foi o dia em que a minha mudou o azimute, a agulha da bússola e o rumo do que viria a ser o futuro. 

Até essa data vivia para o trabalho, para o estudo e para a militância na Juventude Operária Católica a partir do dia vinte um bati com os olhos numa jovem mulher, com olhar triste e choroso, por ter recebido a notícia da morte mulher do seu avô materno, casado em segundas núpcias, que ela considerava como sua, verdadeira avó e todo o meu mundo mudou. Enamorei-me perdidamente.

Tinha a minha vida feliz em Luanda, mas a partir daí não queria que o tempo passasse para não ter de regressar. Passados três meses começámos a namorar a sério, tão a sério, que estabelecemos logo que a minha vida militar, que iria iniciar no ano seguinte, o permitisse, casaríamos.

Felizmente, para mim, tudo correu como planeado e, no dia vinte e sete de Agosto de 1966, três anos depois do auspicioso início, atravessei a ponte sobre o Tejo, novinha em folha, sem movimento e muito menos portagens, até Almada, para ir buscar a noiva que viria a ser a minha mulher com a qual partilho a minha vida desde então.

O tempo é um cavalo e eu tenho muita alegria em poder dizer que, mesmo nesta correria, me sinto muito feliz pelo percurso de vida desde aquele longínquo dia 14 de Abril de 1963 (Domingo de Páscoa) pelo qual dou Graças a Deus por ter sido o início de uma vida de felicidade. 


14/04/2022


Zé Rainho 


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