domingo, 19 de janeiro de 2025

ROTINA!

 

ROTINA!

O hábito é um ladrão. Ouvi dos meus antepassados e nunca percebi porquê. Porém, a disponibilidade de tempo e a vontade de entender, de perceber o que aqueles poços de sabedoria nos queriam transmitir, levam-me a fazer esta reflexão que quero partilhar com todos vós.

O hábito, a rotina, não serão castradores da criatividade? Não serão condicionadores da liberdade de pensamento e acção? Não serão tão desestimulantes que nos acorrentam ao lado mais negativo do comodismo, do laxismo, do desinteresse que nos impede de ir à aventura, de não ter medo do desconhecido, de libertar e alargar horizontes, de procurar o novo?

Se tudo o que se acabou de afirmar estiver certo então, os nossos maiores também tinham carradas de razão. O hábito é um ladrão porque rouba a inovação, o progresso.

Temos o hábito de pela manhãzinha, tomar o duche que limpa o corpo e desperta a alma. Temos o hábito de o fazer com água morna, mais para o quente, porque sempre nos demos melhor com o calor do que com o frio.

Imaginem os meus amigos que, por alguma falha no sistema de aquecimento, a água está fria. Lá se vai a rotina, o hábito. Tomar banho de água fria é, como é vulgar dizer-se “um banho de água fria”, uma pequena tragédia, um desconforto. Não tomar banho é outra solução impensável, o hábito diz-nos que estamos sujos, que cheiramos mal, tudo o que em tempos não muito recuados eram consideradas inverdades. Aquecer água numa panela, destemperá-la e tomar banho como antigamente, nem pensar, isso é retrocesso, isso é da idade das cavernas.

Conclusão: não há plano B e isso é o suficiente para arruinar o dia de um ser de bem com a vida, que até nem tem necessidade de ir para o emprego, nem de sair de casa, nem de participar em reuniões de gala. O hábito é um ladrão.

Só que estas irrelevâncias do quotidiano levaram o meu pensamento para outras latitudes e outras realidades às quais os nossos hábitos nos deixaram de prestar atenção.

Passando por diversos pontos do nosso país e, não só, o nosso olhar depara-se, frequentemente, com imensos espaços de painéis fotovoltaicos que nos dizem, é a energia do presente e cada vez mais será a do futuro, porque é limpa, porque é boa para o ambiente, porque é preciso acelerar a descarbonização do planeta. Não sabemos o suficiente destas coisas para termos opinião formada, ainda que nos entristeça ver terrenos aráveis e produtivos ficarem submersos debaixo de oceanos de ferro e vidro, onde nem uma erava ou bicho sobrevive.

Mas, indo mais longe neste raciocínio, se um dia que se quer que seja para ontem, ficarmos totalmente dependentes deste tipo de energia para a nossa vida diária e um Putin, um Trump, um Jinping, um Kim Jong-un se lembrarem de enviar uns mísseis que destruam esses parques energéticos que estão a descoberto e sem defesa. O que é que acontecerá à nossa vida. Ao nosso actual hábito, à nossa rotina diária?

Tenho o hábito de pensar e o hábito é um ladrão.

19/01/2025

Zé Rainho

 

 

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