ROTINA!
O hábito é um ladrão. Ouvi dos meus antepassados e nunca
percebi porquê. Porém, a disponibilidade de tempo e a vontade de entender, de perceber
o que aqueles poços de sabedoria nos queriam transmitir, levam-me a fazer esta
reflexão que quero partilhar com todos vós.
O hábito, a rotina, não serão castradores da criatividade?
Não serão condicionadores da liberdade de pensamento e acção? Não serão tão desestimulantes
que nos acorrentam ao lado mais negativo do comodismo, do laxismo, do
desinteresse que nos impede de ir à aventura, de não ter medo do desconhecido, de
libertar e alargar horizontes, de procurar o novo?
Se tudo o que se acabou de afirmar estiver certo então, os
nossos maiores também tinham carradas de razão. O hábito é um ladrão porque
rouba a inovação, o progresso.
Temos o hábito de pela manhãzinha, tomar o duche que limpa o
corpo e desperta a alma. Temos o hábito de o fazer com água morna, mais para o
quente, porque sempre nos demos melhor com o calor do que com o frio.
Imaginem os meus amigos que, por alguma falha no sistema de
aquecimento, a água está fria. Lá se vai a rotina, o hábito. Tomar banho de
água fria é, como é vulgar dizer-se “um banho de água fria”, uma pequena tragédia,
um desconforto. Não tomar banho é outra solução impensável, o hábito diz-nos
que estamos sujos, que cheiramos mal, tudo o que em tempos não muito recuados
eram consideradas inverdades. Aquecer água numa panela, destemperá-la e tomar
banho como antigamente, nem pensar, isso é retrocesso, isso é da idade das
cavernas.
Conclusão: não há plano B e isso é o suficiente para arruinar
o dia de um ser de bem com a vida, que até nem tem necessidade de ir para o
emprego, nem de sair de casa, nem de participar em reuniões de gala. O hábito é
um ladrão.
Só que estas irrelevâncias do quotidiano levaram o meu pensamento
para outras latitudes e outras realidades às quais os nossos hábitos nos deixaram
de prestar atenção.
Passando por diversos pontos do nosso país e, não só, o nosso
olhar depara-se, frequentemente, com imensos espaços de painéis fotovoltaicos
que nos dizem, é a energia do presente e cada vez mais será a do futuro, porque
é limpa, porque é boa para o ambiente, porque é preciso acelerar a
descarbonização do planeta. Não sabemos o suficiente destas coisas para termos
opinião formada, ainda que nos entristeça ver terrenos aráveis e produtivos ficarem
submersos debaixo de oceanos de ferro e vidro, onde nem uma erava ou bicho
sobrevive.
Mas, indo mais longe neste raciocínio, se um dia que se quer
que seja para ontem, ficarmos totalmente dependentes deste tipo de energia para
a nossa vida diária e um Putin, um Trump, um Jinping, um Kim Jong-un se
lembrarem de enviar uns mísseis que destruam esses parques energéticos que
estão a descoberto e sem defesa. O que é que acontecerá à nossa vida. Ao nosso
actual hábito, à nossa rotina diária?
Tenho o hábito de pensar e o hábito é um ladrão.
19/01/2025
Zé Rainho
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