quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Intimidades (oito) !!!???

Continuação ...
Já vai longa a história. É imperioso atalhar tempos e espaços para poder concluir.
Ainda a cumprir o Serviço Militar Obrigatório e seguindo o que estava planeado, com a minha noiva, desde o dia que regressámos a Angola, resolvemos casar. Fizemo-lo em 14 de Setembro de 1966. Viemos de Férias com a duração de um mês, a noiva já tinha tratado de toda a documentação e demais procedimentos indispensáveis e, no dia aprazado, o Sacerdote, hoje bastante nosso amigo e Arcipreste do nosso concelho, ainda novo no cargo, presidiu à cerimónia numa das capelinhas mais bonitas deste concelho do portugalprofundo. A Senhora do Incenso, cuja romaria se realiza na Segunda-Feira a seguir ao Domingo de Páscoa e é feriado municipal.
Naquela época, por força da interdição do espaço aéreo pertencente aos países que se tornaram independentes, no espaço de tempo que temos vindo a descrever, as viagens que fizemos de ida e volta foi de avião tinha que contornar a costa Africana viajando por cima do mar, o que implicava uma hora a mais de viagem.
A, agora minha mulher, na despedida dos seus, sofreu imenso. Deixar tudo o que lhe era familiar, querido e onde se movimentava com total à vontade, para ir para uma terra distante só com o seu marido, demonstra bem como o amor era e, Graças a Deus ainda é, mais forte e mais profundo do que tudo. O nosso ombro, coração e alma foram a sua âncora durante alguns anos de ambientação.
Chegados a Luanda em 27 de Setembro de 1966, pelas 8 horas da manhã, locais, fomos recebidos com muito carinho pelos familiares. O enorme grupo de amigos que tínhamos construído ao longo de mais de uma década, preparou às escondidas, para o primeiro domingo que passámos, como casal, uma festa maravilhosa com récita feita por amadores, baile, comes e bebes e ofereceram uma tela a óleo, que ainda hoje está connosco. Foi a forma que eles encontraram para integrar no grande grupo a minha frágil - pesava apenas 42 Kg - mulher.
Passámos uma Lua de Mel maravilhosa procurando mostrar todas aquelas belezas que nos eram tão queridas e familiares. Os locais mais típicos da Cidade, o Museu, os Cinemas e Teatros, a Ilha com a Restinga, os pézinhos no mar e a barracuda, sítios emblemáticos e frequentados pela sociedade Luandense.
A nossa vida militar continuava e os compromissos que tal acarretavam obrigavam a minha mulher a ficar sozinha todas as manhãs e isso trazia-a taciturna. Procurávamos da parte da tarde e à noite compensá-la com actividades para ela, até então desconhecidas. Não foi fácil. As saudades que sentia dos seus familiares e amigos iam apertando. Nós sentíamos isso e começámos a preocuparmo-nos seriamente com a situação. Chegou, entretanto, uma carta de um cunhado com dezoito anos, incompletos, a mostrar interesse em ir ter connosco. Ali vimos parte da solução para o problema que estávamos a viver, cada um com as suas preocupações que não compartilhávamos, parecendo que se vivia no melhor dos mundos.
O Rapaz foi ter connosco. Pagámos-lhe a viagem e arranjámos-lhe um emprego provisório. O definitivo nas Finanças já foi ele que tratou do assunto.  A vida começou a ser menos pesada para a minha mulher. Ocupava-se do marido e do irmão que foi viver connosco. Começou também uma gravidez que parecia não acontecer, no primeiro mês após o casamento, o que tornou a minha mulher muito feliz e com menos saudades. Começámos a viver a nossa vida com mais alegria. A convivência com a nossa família e os nossos amigos continuaram e tudo isso permitiu que nós preparássemos o nascimento do nosso bebé com todo o carinho e todo o pormenor.
Passámos o Natal, o primeiro que ela passou sem frio, com calor solar e humano. Fizemos tudo como era hábito, com presépio, ceia de natal à moda da Beira Baixa e uma missa do galo na nossa paróquia.
O ano seguinte foi cheio de mudanças. Começámos por tirar férias logo em Janeiro de 1967 e fizemos umas viagens a sítios paradisíacos. Viajámos no automóvel que tínhamos adquirido pouco tempo antes de casarmos. Visitámos as cataratas, designadas por, Quedas do Duque de Bragança, próximo de Malanje que ficavam a 400 Km. As distâncias naquele país, sendo enormes, eram consideradas sempre, ali. O mesmo é dizer, perto. Estradas boas, segurança total e tudo à mão e económico. Visitámos a Barragem de Cambambe, a reserva natural da Quissama, a barra do Quanza, o Mussulo e todos os lugares que nos pareciam fazer feliz a minha mulher. E, efectivamente a ambientação começou a processar-se devagarinho.
Sem contarmos, veio uma ordem do Quartel General para que todos os Furriéis milicianos incorporados em 1964 fossem convidados a continuar a vida militar e os que não aceitassem passariam à disponibilidade no dia 31 de Março de 1967. Para nós foi uma alegria total. Entretanto tínhamos decidido mudar de vida profissional e fizemos concurso para 2º Oficial do Quadro dos Serviços Administrativos, o equivalente aos serviços da Administração Interna nacionais. Fomos colocados e iniciámos funções em 1 de Abril de 1967.
Entretanto aquilo não nos dizia muito, sob o ponto de vista profissional e concorremos para as Obras Públicas. Serviços que se ocupavam de construir todos os edifícios necessários ao Estado. Fomos colocados em Silva Porto, hoje Bié, e aí a minha mulher tirou o curso do Magistério Primário. A nossa filha, já com dois anos, fora criada por uma senhora amiga e nossa vizinha, com a ajuda de uma empregada preta, que a ajudou imenso no desenvolvimento da linguagem e na motricidade. A adolescente negra, punha a miúda a dançar ao som dos discos de vinil que tínhamos, com músicas em voga, nacional, angolana e estrangeira, principalmente a brasileira.
Os três anos que estivémos no Bié foram os mais aprazíveis para a minha mulher. Ao contrário, para nós foram bastante monótonos. Não é que a cidade não tivesse os seus encantos mas nós é que éramos demasiado citadinos para nos habituarmos a um mundo tão rural. Mas como tudo faz parte da vida vivemos sempre com o optimismo que nos caracteriza. Aproveitando as partes positivas das coisas e situações - que as há sempre -  e esquecendo as negativas.
Ao fim dos três anos fizemos concurso para chefe de Secção Técnica da Câmara Municipal de Luanda e fomos aprovados e colocados nesta nova função. Éramos o Chefe de Secção mais novo de todo aquele empório.
A vida corria de feição e em 1972 viemos a Portugal passar 30 dias de Férias para a minha mulher matar saudades. Como tinham passados cinco anos após o Serviço Militar altamente secreto e as siglas e códigos mudavam com essa periocidade foi-nos concedido o passaporte que nos permitiu ir a Paris. Viajámos com a nossa filha de cinco anos de idade. E, sem qualquer programação, nova gravidez da minha mulher.
No dia 15 de Junho de 1973 nasce a nossa segunda filha e, como estava programado, iniciámos a nossa licença graciosa em 1 de Julho do mesmo ano. A viagem de avião foi aprovada pelo obstreta e pelo pediatra e a família da minha mulher não cabia em si de contentes pelas duas visitas anuais seguidas e por verem a nova neta e sobrinha.
Voltaremos ...

3 comentários:

  1. Nota-se, à medida que vais descrevendo factos, uma nostalgia desses tempos e lugares...
    É uma nostalgia boa, saudável, própria de quem sente que cumpriu o seu papel a preceito. E, quando assim é, sente-se que valeu a pena. Não é verdade, meu amigo?
    Mas ainda tens muito pela frente, pois a tua determinação e o teu entusiasmo pela vida assim o exigem, assim como os que te rodeiam.

    Um grande abraço

    ResponderEliminar
  2. É verdade Agostinho. Tens razão. Mas o relato vai longo. Pretendo terminá-lo com o capítulo dez.
    Abordarei a nossa frequência do Magistério do Fundão e a vida profissional até à aposentação.
    Depois virarnos-emos para outros assuntos, porque este já deve maçar quem lê.
    Um forte abraço.
    Caldeira

    ResponderEliminar
  3. Zé,
    O teu relato não tem nada de maçudo, antes pelo contrário, o que acontece é que a maioria das pessoas que te costuma comentar está de férias.

    Abraço

    ResponderEliminar