quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

Grito!

 GRITO!


Grito com mágoa e comoção 

Ao ver deitado sobre um cartão 

Um meu irmão desvalido.

Por própria ou imposta opção 

Mas sempre na péssima condição 

De, apenas, ter sobrevivido. 


Sinto o vazio e a incapacidade 

De ver que esta minha cidade 

É uma terra madrasta. 

Para quem estende a mão a caridade 

Mesmo quando já não tem idade

Para gritar que já basta.


Vejo gente em frenético movimento 

Que, por vergonha ou sentimento 

Desvia o olhar pra não ver.

A miséria, a dor, o sofrimento 

Do semelhante que em detrimento 

Da dignidade, deixa de viver.



Paredes meias com esta desgraça 

Vive o luxo, o esbanjamento e a trapaça 

De quem a vida é bendita 

Que queriam ver nos outros a mordaça 

Da denúncia do espavento e devassa

Daquela vida restrita.



Se houvesse ao menos um abrigo 

Mesmo amplo, ainda que colectivo 

Não seria necessário o hospital 

Ficar com doente curado, vivo

Com poucas forças mas decidido 

A voltar a uma vida normal 


Mas não há nada neste país indigente 

Para as pessoas que de forma premente 

Procuram um teto para dormir

E não conseguem assim de repente 

Trabalho e recurso permanentemente 

Para tal falta conseguir suprir 


Mas os nababos governantes e banqueiros

Montados na soberba e nos dinheiros 

Não se importam com a miséria 

De quem apenas queriam ser primeiros 

A ter trabalho, comida e companheiros

De uma vida normal e séria.


5/12/2023


Zé Rainho 


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