GRITO!
Grito com mágoa e comoção
Ao ver deitado sobre um cartão
Um meu irmão desvalido.
Por própria ou imposta opção
Mas sempre na péssima condição
De, apenas, ter sobrevivido.
Sinto o vazio e a incapacidade
De ver que esta minha cidade
É uma terra madrasta.
Para quem estende a mão a caridade
Mesmo quando já não tem idade
Para gritar que já basta.
Vejo gente em frenético movimento
Que, por vergonha ou sentimento
Desvia o olhar pra não ver.
A miséria, a dor, o sofrimento
Do semelhante que em detrimento
Da dignidade, deixa de viver.
Paredes meias com esta desgraça
Vive o luxo, o esbanjamento e a trapaça
De quem a vida é bendita
Que queriam ver nos outros a mordaça
Da denúncia do espavento e devassa
Daquela vida restrita.
Se houvesse ao menos um abrigo
Mesmo amplo, ainda que colectivo
Não seria necessário o hospital
Ficar com doente curado, vivo
Com poucas forças mas decidido
A voltar a uma vida normal
Mas não há nada neste país indigente
Para as pessoas que de forma premente
Procuram um teto para dormir
E não conseguem assim de repente
Trabalho e recurso permanentemente
Para tal falta conseguir suprir
Mas os nababos governantes e banqueiros
Montados na soberba e nos dinheiros
Não se importam com a miséria
De quem apenas queriam ser primeiros
A ter trabalho, comida e companheiros
De uma vida normal e séria.
5/12/2023
Zé Rainho
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