quarta-feira, 22 de julho de 2020

Cães e Gatos!


Estou chocado. Fiquei chocado!
Fiquei chocado ontem quando soube que alguns animais tinham sido queimados num incêndio lá para os lados do Porto. Um incêndio é algo que mexe comigo por todos os poros. Desde logo porque não há incêndios inocentes, nem naturais, excepção para trovoadas secas e outros fenómenos da natureza, incontroláveis. Perdoe-se-me a radicalidade. O incêndio visa sempre um propósito quer este seja mais ou menos aceitável e, isso, para mim é o suficiente para eu ficar indignado. E não se venha dizer que há inconsciência, que há malvadez, que há interesses, que há um sem número de factores que produzem incêndios. Os incendiários sabem sempre por que razão fazem fogo.
Mal comparado é a mesma coisa quanto aos homicídios com arma de fogo. Se não houver armas não há possibilidades de haver tiros e, consequentemente, não há homicídios por este meio. Se ninguém andar com isqueiros ou fósforos no bolso junto da floresta, não pode haver incêndios. É tão simples como isto, ainda que seja radical, reconheço.
Logo, os incêndios são fruto de factores que só ao homem dizem respeito e ao homem aproveita. Evidentemente, a uns aproveita e a outros, desgraça.
Os incêndios são um prejuízo para todos nós. Destrói a floresta, o meio-ambiente, a economia e empobrece o país, logo, todos nós.
E não se diga que não há culpados por que os há e são muitos. Não só os incendiários, mas todos os responsáveis pela organização da sociedade, respectiva regulação e cumprimento das regras. Quem não cumprir terá de ser punido e não são só os incendiários, repito.
Não há prevenção. Não há planeamento nem profissionalismo no que a esta diz respeito. Não há ordenamento do território nem políticas de defesa da floresta e sua rendibilidade. Há um montão de dinheiro despejado sobre o fogo que, infelizmente, não tem o condão de o apagar, antes pelo contrário, cria uma rede de interesses que torna o fogo um grande negócio para um grande número de gente sem escrúpulos que se move em torno daquilo que muita boa gente já apelidou da “indústria do fogo”.
Não admira, pois, que ontem tenha ficado chocado por causa do incêndio e pelas consequências directas nos animais que foram esturricados pelo fogo, sem lhe darem a hipótese de fuga que, nestas circunstâncias, é uma luta pela sobrevivência.
Adoro animais e não consigo compreender a crueldade de, nem, ao menos, os libertarem para que pudessem socorrer-se do seu instinto de sobrevivência e depois fugirem.
Fiquei chocado por que há muitos seres humanos que exploram, de forma despudorada, a sensibilidade dos seus semelhantes para retirarem dividendos de vária ordem em proveito próprio, individual ou de grupo. Gente que recolhe animais e não lhe dá condições de vida dignas, não são pessoas que gostam dos animais, mas que se servem deles para obterem algo, já que mais não seja, uma auréola de boa pessoa, na maior parte dos casos, dinheiro de ingénuos e incautos, para além de dinheiros públicos que todos nós pagamos, noutras situações.
Estou chocado hoje por que não se fala noutra coisa na comunicação social e nas redes sociais esquecendo tudo o resto. Desde logo o esforço, muitas vezes sobre-humano, de bombeiros e autoridades. Mas também os proprietários da floresta que, em muitas circunstâncias, vêem o seu trabalho de décadas ir por água abaixo e ninguém lhe dirigir uma palavra de conforto e de compreensão.
Também as pessoas feridas, ou mesmo mortas, directa ou indirectamente resultantes do incêndio e estas não verem ninguém se preocuparem com elas. O mesmo é dizer que são tratadas abaixo de cão.
Complementarmente não ouço ninguém preocupar-se com a natalidade dos animais. O mesmo é dizer que estes se podem cruzar e ter ninhadas indefinidamente, sem controlo. As espécies que não têm predadores têm de ter, por parte das entidades responsáveis, uma atenção à problemática reprodutiva sob pena de, mais tarde ou mais cedo, se chegar ao descontrolo total ao ponto de não haver infra-estruturas que acomodem o excesso populacional das espécies denominadas de companhia.
Estou chocado com o chorrilho de disparates e acusações a autarcas e autoridades diversas sem irem à raiz do problema que assenta, basicamente, no desrespeito individual e colectivo de quem quer ter um animal de companhia e depois se desfaz dele com toda a tranquilidade, sempre que lhe dá jeito, ou quando este se tornou um peso. Não devia estar admirado. O mesmo fazem aos velhos que depositam em tugúrios, muitas vezes designados de lares, porque os verdadeiros lares custam muito dinheiro e os velhos já não são capazes de ganharem o suficiente para suprir tais despesas. O mesmo fazem aos filhos bebés que depositam em creches o máximo tempo possível, para poderem ir passear o tareco todo embonecado, penteadinho, quando não mesmo vestido de trapos caríssimos só porque isso é chic.
Estou chocado com a Comunicação social que dá voz a esta gente e não se interessa por quem passa fome neste país porque perdeu o emprego.
Estou chocado por ver deputados e partidos políticos a defenderem estas causas e esquecerem as causas das pessoas que morrem sem assistência médica, que não têm um tecto para se abrigar e exigem que o Estado – que somos todos nós, nunca se esqueçam – façam canis, contratem veterinários e todas as outras extravagâncias que me dão vómitos. Gosto muito de animais mas gosto muitíssimo mais e incomparavelmente, de pessoas. Não posso aceitar esta verborreia e esta inversão de valores sem me revoltar.
20/07/20

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