quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

Estórias de vidas 3


A Rainha, a mais velha filha do casal Teresa e Zé das três raparigas que tiveram, ficara órfã de mãe com, apenas 16 anos de idade, e tivera de ser a dona de uma casa que tinha o pai, dois irmãos mais velhos (rapazes), quatro irmãos mais novos, (dois rapazes e duas raparigas) para quem era preciso cozer pão, remendar calças, camisas e vestidos, cozer panelas de sopa e outros pratos para alimentar aquelas bocas e a sua própria.

Também ela, a exemplo do que acontecera com aquele que viria a ser seu marido, não aprendera a ler nem escrever apesar do seu pai também ser um homem com a 4ª classe, habilitação académica reduzida, mas que era uma mais-valia, numa época em que noventa por cento das crianças eram analfabetas num Portugal cinzento, depressivo, pobre e subdesenvolvido.

Porque as raparigas não necessitavam de saber ler nem escrever – independentemente da classe social de que eram oriundas – segundo a cultura daquele tempo. As raparigas teriam de aprender a ser boas donas de casa, boas mães e muito, muito piedosas.

A Rainha tivera que tratar da mãe que ficara acamada por causa de uma perna partida, sem qualquer tratamento médico, durante cerca de dez anos e depois tratar de todo o lar após o seu falecimento. Daí que, após ter feito os vinte um anos, que a Lei obrigava a cumprir, para se ser de maior idade logo casou com o Manuel, mal este passou à disponibilidade do Serviço Militar obrigatório, já com vinte e dois anos, pois ele era mais velho um ano que ela.

Foi sempre boa filha, boa esposa e melhor mãe. Felizmente para ela, segundo o seu filho único, sua nora e suas duas netas viveu, principalmente depois de casada, uma vida muito feliz, longa, até aos 95 anos de idade.

Conheceu outros países, nomeadamente Angola onde viveu cerca de 20 anos, trabalhou muito mas ganhou o estatuto de mulher independente, com ordenado ao fim do mês e sempre junto do marido e sob a protecção deste.

Teve um casamento muito feliz que durou até à morte do marido que ela amava e ele a estremava que durou 66 anos completos. Ainda viveu seis anos viúva junto do filho e da nora.

Fora sempre uma mulher prendada. Desde pequena aprendeu as lides da casa onde era preciso cozer o próprio pão, semanalmente, para alimentar as muitas bocas que havia no lar de seu pai.

Nas horas vagas e com uma amiga que ela considerava uma irmã, que tinha uma máquina de costura, aprendeu a costurar e a fazer a sua própria roupa.

Era uma cozinheira de mão cheia. Nunca foi mulher dada ao trabalho do campo.

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